BLACK - Ouro Pros Nossos Ft. Mazin (Prod. AZMUTH)
“Temporais são temporários” é o nome do
novo álbum do rapper Black. Inicialmente ele lançou quatro episódios em curta,
o conteúdo desses vídeos dizem respeito à sua tracklist que, aos poucos, junto
à BancaRecords está sendo lançada no YouTube. Tenho vontade de escrever sobre
todas as letras que já foram lançadas até aqui desse trabalho, porém, o tempo
não permite que eu consiga atingir esse objetivo, pelo menos não agora.
Na música “Ouro pros nossos”, Black e
Mazin falam sobre racismo, protagonismo negro e qual o objetivo dos negros ao
tocar em assuntos tão delicados. Pra quem não escuta o rap produzido por
aqueles que abraçaram o tema “Pretos no topo”, a letra pode soar de forma
arrogante aos seus ouvidos, principalmente por causa de seu refrão:
Ouro pros nossos
Prata pros nossos
Tropa focada no milhão
Seguimos fortes
Independente
De varias baixa e humilhação
Para os
ouvidos desacostumados, a letra pode parecer um clamor a ostentação e a luxúria,
mas não, não é só isso. Não quero dizer que a ostentação é algo proibido ao
negro, pelo contrário, precisamos nos perguntar: quem são as pessoas que ostentam,
quem são os donos do ouro? O ouro é um metal que continua atraindo a atenção de
muitas pessoas por causa do seu valor de mercado, é um objeto que continua
sendo comercializado e consumido, mas que são os seus consumidores?
Acredito
que todas as pessoas já viram um clipe de rap e perceberam que os cantores
utilizam bastante correntes de ouro e de prata, se não isso, até mesmo nas
ruas, aqueles que abraçam a cultura hip hop como estilo de vida andam em
semelhança com os rappers, fazendo uso dos mesmos acessórios. A maioria das
pessoas, quando veem o porte desses metais por pessoas da periferia (como é o
caso em questão) acabam por gerar uma visão preconceituosa, dizendo que tal uso
é coisa de bandido. Porém, pelo menos eu, nunca vi ou ouvi uma crítica ao uso
de metais preciosos em abundância por pessoas ricas, aquelas que aparecem nas
nossas televisões e protagonizam a maior parte dos filmes e novelas.
Por mais
que pareça um olhar invejoso ao bens matérias das pessoas ricas, esse clamor
pelo ouro não tem muita coisa a ver com a ostentação que a classe dominante
pratica em nossa sociedade. Perceba que nas primeiras palavras da música é dito
que:
Chega um momento que cê nem quer ser o melhor
Só quer voltar pra casa com grana
Pra encher a geladeira
O ouro na
música representa poder, existe uma forma de se conseguir poder sem ser através
do dinheiro no mundo atual? Na parte acima destacada, podemos perceber que
poder (diga-se dinheiro) nas mãos de um pobre é diferente de poder nas mãos de
um rico, enquanto um quer os recursos básicos para sobreviver, como ter comida
em casa, o outro quer poder para acumular e atender a necessidades fúteis.
A música
vai ganhando uma tônica específica aos problemas do povo preto, sabemos que a
maioria pobre no Brasil é de gente preta (cerca de 76% dos mais pobres, segundo
o IBGE), entretanto, muitos brancos também são parte desse camada da população.
Quando a música começa a falar de como a polícia trata as pessoas de pele
negra, reflete um problema que não atinge todos os pobres, o negro é o alvo.
Alguns
pensam que a forma como a polícia (ou o aparelho repressor do Estado) age com
pessoas negras está associada a uma questão estrutural, de classe, mas não é
isso que os dados nos dizem. Pensem comigo, quantos homens brancos levaram 80
tiros sem cometer crime algum? Quantos jovens brancos foram passear de carro e
receberam mais de cem tiros por isso? Não podemos fechar os olhos para essa
situação, se a polícia é despreparada que culpa temos nós?
Tirando devagar o telefone do bolso
pra não confundirem com uma arma
e me matarem, risos
Não
podemos andar na rua com medo de colocar a mão no bolso porque alguém pode
pensar que a qualquer momento vamos sacar um revolver e anunciar um assalto,
não somos ladrões em potencial por causa de nossa cor. Estamos morrendo por
causa disso e isso vem se tornando algo recorrente.
Quando a
música chega na parte do Mazin, recebemos uma notícia que deveria nos intrigar,
todos nós precisamos atentar para o que ele diz:
por isso tenho algo pra passar
eu? Trago motivação pros nossos, se a doença é
a falta do saber a cura é intra-auricular
Tudo que
venho escrevendo até aqui alguém, em algum momento, já falou anteriormente,
acredito que você já ouviu algo parecido também, qual foi sua reação?
Interessante
é perceber como Black e Mazin destacam as figuras de poder no nosso país, se
vestem com trajes elegantes, clamam pelo valor da família e dos bons costumes,
dizem que não tem preconceito com nada, mas essa postura não passa de fake,
aliás, isso não ocorre só no Brasil, é um fenômeno mundial.
Vejo esse branco na pista
gritando: fogo em racista
Mas olha só que ironia: ele se queimou
Esse
último verso destacado toca em muita gente na nossa sociedade, mas aqui ele
está sendo bem específico à cena do rap, que antes da temática “Pretos no topo”
ser abraçada, estava sendo dominada por pessoas brancas que estavam
goumertizando o rap.
Finalizando
esse texto, um tanto que desconcertado, quero dizer que a música, além de ser
uma forma de mostrar o protagonismo negro, ela é também um alerta, pergunto
novamente: você nunca ouviu nada parecido com o que foi exposto aqui?


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